Percepção dos efeitos da guerra Rússia x Ucrânia sobre o PIB é diversa entre países latino-americanos, aponta Sondagem

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Mesmo com o efeito direto da guerra na Ucrânia sobre o preço de várias commodities exportadas por países latino-americanos, a percepção de especialistas do continente sobre o impacto do conflito no leste europeu no PIB de seus países não é predominantemente favorável. Conforme aponta a Sondagem Econômica da América Latina do segundo trimestre de 2022, divulgada ontem pelo FGV IBRE, o resultado agregado para o continente aponta a uma previsão de que a guerra influenciará negativamente na atividade econômica na região. A única indicação a que os especialistas efetivamente convergem é sobre o aumento da pressão inflacionária provocado pela guerra.

Dos países consultados, a Colômbia é o único que aponta uma influência favorável do conflito sobre a economia, favorecido pelo aumento dos preços internacionais do petróleo. Nos demais países, o efeito da inflação sobre a atividade parece ser mais forte do que os possíveis benefícios à balança comercial. Ou o aumento dos preços dos produtos importados acaba anulando, ou superando, possíveis vantagens do lado das exportações, tal como indicam os resultados para países como Argentina, Bolívia. México e Peru. “O caso do Paraguai, que reporta prejuízos do lado das exportações devido à guerra, explica-se pelo fato de o país ter a Rússia como um dos destinos de exportação de carne, e com o banimento da Rússia do Swift (sistema mais popular para a realização de transferências entre países, fundamental para o comércio internacional), teve suas vendas embargadas”, diz Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE.

Como a guerra na Ucrânia afetou as previsões nos países selecionados
(% de respostas)


Fonte: FGV IBRE.

Lia ressalta que a economia do Paraguai já vinha sofrendo os efeitos da seca na produção agrícola, e a somatória de efeitos negativos levou o país a registrar a pior revisão de PIB em relação às projeções registradas na Sondagem do primeiro trimestre do ano, com uma queda de 2,4 pontos percentuais (pp), para 1,2%. Entre as economias analisadas na Sondagem, somente Chile e México, além de Paraguai, revisaram o PIB para baixo com uma redução de, respectivamente,  0,9 pp e 0,6 pp. No caso do Chile, o aumento da inflação fez o governo chileno revisar a evolução da demanda doméstica para este ano, de um crescimento de 2,6% para uma queda de 1%.  Já para o México, Lia ressalta a influência da evolução da economia americana, também afetada pela evolução dos preços. No caso das sete demais economias avaliadas na Sondagem, Lia ressalta que as revisões para cima do PIB de 2022 não chegam a 1 ponto percentual, sendo a mais significativa a do Uruguai, com 0,8 pp a mais do que na Sondagem do primeiro trimestre.

Previsão de crescimento para o PIB em 2022, em %, países selecionados
A previsão do FGV IBRE para o PIB do Brasil em 2022 é de alta de 0,7%


Fonte: FGV IBRE.

“É preciso destacar que, no geral, o clima econômico na América Latina está pior do que no início do ano”, ressalta, lembrando que o índice calculado pelo FGV IBRE apontou um forte recuo no segundo trimestre em relação ao trimestre anterior, de 11,7 pontos. Uma das características mais marcantes dessa piora é sua concentração no componente das expectativas, que do final de 2020 a meados de 2021 alcançou altos níveis de otimismo, em contraposição à avaliação da situação atual da economia na região, que ainda se posicionava muito abaixo do nível de neutralidade, de 100 pontos, reduzindo a diferença entre ambos. “Agora, a percepção em relação ao futuro também está pior, e isso pode estar relacionado ao receio quanto à trajetória da inflação, e de que esse processo desemboque em estagflação”, diz. Nesta Sondagem do segundo trimestre, apenas o Uruguai mantém o Indicador de Clima econômico acima do nível neutro, com 149,6 pontos. Colômbia e Paraguai, que no primeiro trimestre se somavam ao grupo acima dos 100 pontos, caíram respectivamente para 95,7 e 91,2. Os piores resultados nesta última edição da Sondagem são de Argentina e Chile, com um Indicador de Clima Econômico de 39,1 e 46 pontos, respectivamente.

Lia ainda ressalta que, com esse resultado, o Indicador de Clima Econômico da América latina fica 12,4 pontos atrás do registrado no segundo trimestre de 2019, pré-pandemia, e -17,7 pontos atrás do registrado no mesmo período de 2021, quando a onda de contágio pela variante Delta ainda ralentava o processo de recuperação da economia. Nas comparações, o valor atual só supera o verificado no segundo trimestre de 2020, pior momento de restrições provocadas pela pandemia.

Variação dos indicadores de Situação Atual (ISA) e de Expectativas (IE), em pontos, em relação ao mesmo período de:


Fonte: FGV IBRE.

 


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