Onde estão os bons empregos?

Por Claudio Conceição, do Rio de Janeiro

Que caminhos devem ser trilhados para aprimorar as características do mercado de trabalho no Brasil, num momento em que as taxas de desemprego têm batido recordes, sem sinais de arrefecer de forma significativa num futuro próximo?

O aumento da taxa de desemprego, exacerbada pela pandemia da Covid-19 , engrossada pela expulsão de informais do mercado de trabalho – a taxa de informalidade que era de 43,7% em 2019 caiu para 41,4% no ano passado –, aliada à baixa produtividade da economia brasileira, como tem demostrado os estudos do Observatório da Produtividade Regis Bonelli, são sérios entraves para uma melhoria desse quadro, sem que os entraves estruturais de nossa economia não sejam mudados.

Taxa de desemprego
(em %)


Fonte: Pnad Contínua.

 

Empregos informais e formais
Evolução das categorias de emprego. Série mensalizada com ajuste sazonal (Fev/2020=100).


Fonte: Elaboração FGV IBRE com dados da Pnad Contínua (IBGE). Definição de Informal: Sem Carteira (Privado, Público e Doméstico), Conta Própria sem CNPJ, Empregador sem CNPJ e Trabalhador Familiar Auxiliar. Definição de Formal: Com Carteira (Privado, Público e Doméstico), Militar, servidor estatutário, Conta Própria com CNPJ e Empregador com CNPJ.

Nelson Marconi, articulista da revista Conjuntura Econômica e professor da FGV EAESP, se debruçou sobre a qualidade do emprego no Brasil levantando duas intrigantes questões: o que são bons empregos? E onde estão os bons empregos?

Partindo da premissa de que o conceito de emprego, na verdade, não expressa a amplitude do mundo do trabalho atual, já que as pessoas exercem suas atividades de diversas formas, com ou sem vínculo direto a uma empresa – cada vez mais se observa a pejotização do trabalho –, sendo, que o mais correto, se adotar o conceito de ocupação.

Usando os micro dados da PNDA do terceiro trimestre de 2019, que ainda não estariam contaminados com os efeitos da pandemia, Marconi aponta alguns setores que podem gerar bons empregos, considerando como critério as remunerações praticadas, que seriam “os ligados à indústria extrativa (incluindo petróleo), manufatura de média e alta tecnologia, utilidades públicas, serviços modernos, administração pública, educação e saúde. Destes, alguns também vêm gerando um volume de empregos satisfatório e ao mesmo tempo diversificado: administração pública, educação e saúde, sendo que estes dois últimos apresentam grande potencial de crescimento. No tocante aos demais setores que praticam boas remunerações para diversas ocupações, políticas públicas serão necessárias para estimular a sua maior participação no emprego, lembrando que há forte complementaridade entre a produção e modernização da manufatura de médio-alto e alto conteúdo tecnológico e a demanda pelos chamados serviços modernos”.

Seguindo em sua análise, Marconi esclarece que “há um grupo de setores com características intermediárias, isso é, eles geram empregos em quantidade satisfatória e pagam remunerações próximas ou pouco abaixo da média geral, e também apresentam uma diversidade razoável de ocupações. São eles a manufatura de baixa e média-baixa tecnologia, o comércio, o alojamento e serviços de turismo, transporte, armazenamento e correios, atividades administrativas, cultura, esporte e lazer e até mesmo a construção.  Alguns destes setores poderiam ser facilmente estimulados, sem investimentos tecnológicos onerosos, mesmo porque alguns aproveitam vantagens comparativas de nosso país, e gerariam postos de trabalho com características medianas para um contingente expressivo de pessoas, exercendo um papel relevante nas políticas de geração de empregos.

Por fim, os setores cuja oferta de postos de trabalho está concentrada em poucas ocupações e praticam baixas remunerações são serviços domésticos, pessoais, vigilância, segurança e manutenção de edifícios, serviços de alimentação e agropecuária. Alguns deles estão entre os que mais geraram postos de trabalho no Brasil antes da pandemia, reforçando o argumento que aponta para a precarização de nosso mercado de trabalho e sua associação com a regressão da estrutura produtiva”.

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