“Novas revisões para o PIB de 2021 serão determinadas fundamentalmente pelo comportamento do setor de serviços”

Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do FGV IBRE

Desde abril, quando a taxa mensal do PIB em relação ao mesmo mês do ano anterior cresceu 14,8%, a atividade econômica vem registrando uma clara queda em seu ritmo de expansão, fechando julho em 6,6%, conforme estimativa do Monitor do PIB divulgada na última sexta-feira, 17/9. Parte dessa desaceleração é justificada pela base de comparação, já que abril de 2020 marcou o pior resultado desse ano, com uma queda de 13% contra abril de 2019, reagindo a partir do mês de maio. Mas também reforça a visão de que o PIB de 2021 não deverá refletir nenhum grande impulso de crescimento novo. “A diferença em relação ao crescimento necessário para repor as perdas de 2020 (-4,1%) será pouca, o que significa que não iremos muito além de zerar, no agregado, o efeito econômico da pandemia no ano passado”, diz Claudio Considera, coordenador do Monitor do PIB do FGV IBRE. A última estimativa do Boletim Macro IBRE para o PIB de 2021 é de 4,9%. 

PIB


Fonte: FGV IBRE.

Frente a tal quadro, Considera afirma que qualquer revisão para a atividade econômica em 2021 daqui em diante será fundamentalmente determinada pelo setor de serviços. “É o setor que ainda tem mais a recuperar em relação ao nível pré-pandemia, em especial o segmento de outros serviços, que é responsável por 15% do PIB”, diz. Este, por sua vez, dependerá da disposição - e  capacidade - das famílias em consumir. No trimestre fechado em julho, em relação ao mesmo do ano anterior, o crescimento do consumo de serviços foi de 10,3%, contra 8,5% no trimestre findo em junho. Na comparação mês contra mês anterior, julho também registra alta significativa, de 2,5%, a maior do ano. “A maior parte consumo das famílias, cerca de 65%, são serviços. E as famílias que durante o isolamento acumularam poupança demonstram disposição, por exemplo, para sair, viajar, buscar entretenimento fora de casa”, ilustra Considera, destacando a importância da vacinação para essa flexibilização. O coordenador do Boletim Macro pondera, entretanto, que inflação alta quita poder de compra das famílias, e as contínuas revisões para cima do IPCA  - a última estimativa do IBRE é de que feche o ano em 8,6% - devem minar parte do impulso da população em consumir, especialmente a camada de mais baixa renda. 

Taxa mensal do consumo das famílias
(em relação ao mês imediatamente anterior %)

Essa contraposição entre o movimento de recuperação da economia com a perda de fôlego já identificada em algumas atividades reforça a análise apresentada por Silvia Matos no III Seminário de Análise Conjuntural, de que o crescimento que se poderá registrar daqui em diante será automático. “Ainda continuamos preocupados com o balanço de forças positivas e negativas”, diz. Silvia lembra que a indústria, que já tinha uma desaceleração contratada, frente à recuperação dos serviços, deve se ver mais afetada que o inicialmente esperado em função do impacto da crise hídrica e da pressão dos preços dos insumos, dada a persistência da crise nas cadeias de fornecimento globais. “Há uma perda de confiança para o futuro, que poderá ser confirmada nas próximas sondagens de confiança”, afirma. Ela lembra que a crise hídrica também tende a impactar o resultado do setor agropecuário, que também já estava do lado negativo da balança para o segundo semestre. 

Além disso, Silvia destaca outros setores que até agora demonstraram alto dinamismo e que tendem a se acomodar, como o de intermediação financeira, e mesmo o setor de comércio, que já não deve registrar números tão altos nos próximos meses. “Mesmo o setor da construção, que mantinha uma visão otimista, com o encarecimento do crédito poderá ter suas expectativas revistas”, diz. Para Silvia, fica cada vez mais claro que olhar a recuperação observada no primeiro trimestre como tendência é equivocado, e que o crescimento econômico de fato dependerá da resposta à contenção da pressão inflacionárias e do desemprego, que deverão determinar, entre outros, a sustentabilidade da retomada do consumo.   “A normalização dessa demanda foi prejudicada, e vale lembrar que a confiança do consumidor já apresentava uma distância historicamente alta em relação à do setor produtivo, sinalizando cautela. Aqui, também será preciso separar a volta já contratada, com normalização de certas atividades, do que é crescimento de fato”, conclui.

Taxa mensal, demanda
(em relação ao mês imediatamente anterior %)

 


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