Inovação – “Precisamos trabalhar com prioridades”

Jorge Guimarães – diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii)

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii) foi criada em 2015 para facilitar a interação entre empresas e institutos de pesquisa e universidades. O contrato de pesquisa aplicada feito através da Embrapii não demanda edital para liberação de recursos, e o valor do projeto é bancado 50% pelo setor empresarial, 33% não reembolsável pela Embrapii e o restante de contrapartida não-financeira pelos centros de pesquisa. Nos seis anos de atuação, concretizou mil, projetos que somam cerca de R$ 1,5 bilhão em investimentos.

A Embrapii chegou à marca de 1000 projetos em agosto. Como a pandemia afetou o trabalho?

Apesar de dificuldades política e financeira que tivemos desde a criação da Embrapii, no começo de em 2015, ela nunca parou de crescer, e nunca atrasou um dia de repasse para os projetos. Este ano, devido à pandemia, projetamos não ter mais do que 100 projetos. Somente no primeiro semestre, entretanto, batemos 110. Desse total, 60 foram para o combate à Covid-19. Entre eles, de produção de máscaras, materiais para fabricação de diafragma para ventiladores pulmonares, produtos têxteis com propriedades antivirais, uso de radiação ultravioleta em purificadores de ar, até controle de resultados de exames em blockchain.

No ano passado, em entrevista à Conjuntura Econômica, o senhor mencionou que o foco da Embrapii a partir de 2019 seria ampliar contratos em saúde, além de máquinas e equipamentos, para os segmentos de fármacos, biofármacos e ensaios pré-clínicos. Conseguiram?

A resposta direta e triste é não. Não tivemos o repasse do Ministério da Saúde previsto no contrato de gestão que assinamos em 2018. Hoje temos 12% de projetos na área de saúde, mas muito pouco nesses segmentos. Veja, quando o contágio de Covid-19 começou, respondemos rapidamente e em 18 de março já estávamos negociando contratos de pesquisa. Pudemos fazer isso porque já éramos fortes nesses segmentos, e ajudamos várias empresas a se adaptarem, como do setor automobilístico e de manufatura. Pequenas startups, que perceberam um nicho de oportunidade, também entraram para esse grupo. Mas, dos 60 projetos que mencionei, somente cinco eram da área biológica. De antiviral, tivemos apenas um. É algo complexo, pois somos o sexto maior mercado de medicamentos do mundo, e a grande despesa do SUS está justamente em biofármacos, vacinas, anticorpos monoclonais.

Nossos institutos e universidades têm demonstrado alta capacidade para essas pesquisas. Mas, para desenvolver essa área, entusiasmar o setor público, também dependemos do interesse da indústria farmacêutica. Esse é um dos setores mais capitalizados do Brasil, mas não está atuando em inovação como precisa, e deveria. Está acomodado na fabricação de genéricos. Mas essa fonte também pode escassear, pois as grandes já perceberam que os genéricos são um grande mercado, e não estarão mais tão dispostas a repassar patentes de remédios quando essas vençam.

A Embrapii tem buscado novas fontes de financiamento?

Sim. Em agosto, por exemplo, formalizamos um apoio do BNDES de R$ 20 milhões em projetos de pesquisa, desenvolvimento e Inovação (PD&I), não-reembolsáveis, para o desenvolvimento de fases finais como certificações. É um financiamento voltado à área de saúde que inclui uso de tecnologia de alta complexidade, cuja aplicação é ampla. Isso nos ajudará no desenvolvimento de uma nova área da Embrapii, a emergencial, na área biológica, para a qual já temos duas unidades: um instituto de biologia molecular no Paraná, spin off da Fiocruz, e um instituto de pesquisa em Santa Catarina voltado à pesquisa pré-clinica.

A Covid-19 provocou retração de demanda por projetos em algum segmento com o qual trabalham?

Até agora, os sinais que tivemos não foram de arrefecimento. Apesar de termos focado o combate à Covid-19, a demanda continuou acontecendo em outras áreas, como energia, manufatura, agroindústria. Nosso objetivo agora é obter renovações e novos contratos de gestão que nos permitam, em um horizonte de dez anos, saltar das 700 empresas atendidas para 12 mil, pois sabemos que há esse grupo de interessados em inovar. E o que os ministérios, o governo federal, ganham em financiar 1/3 de projetos de forma não-reembolsável? Empregos de alta qualidade, patentes, internacionalização de pequenas e médias empresas, mais arrecadação de impostos, desenvolvimento econômico e social. Acho que justifica, né?

 


Clique aqui e assine a Conjuntura Econômica para ler a íntegra desta entrevista na edição de setembro

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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