Eleições

“Este ano, as redes sociais ficarão reservadas a mobilizar convertidos”, diz Marco Antonio Teixeira, da FGV Eaesp

Po: Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A limitação imposta pela Covid-19 na promoção de grandes eventos públicos e o aumento da exposição do brasileiro à TV com o isolamento deverão fazer com que o horário eleitoral - que tem início nesta sexta-feira (9/10) - e os telejornais ganhem relevância na formação da opinião dos eleitores, diz Marco Antonio Carvalho Teixeira, professor da FGV Eaesp. “Com a pandemia, o brasileiro está mais exposto à TV. Pesquisas apontam um aumento de 34 minutos no tempo dedicado a esse meio, o que significa uma média de 6h20 de exposição, e que os telejornais cresceram substancialmente em audiência, impulsionados pela necessidade de se informar sobre a Covid-19”, descreve. Para Teixeira, esse poderá ser o momento de revanche do jornalismo convencional. “É possível que o eleitor busque mais o contraditório nos telejornais, que assista mais ao programa eleitoral. E as redes sociais ficarão reservadas para mobilizar convertidos. Dificilmente, até por conta do que aconteceu em 2018, será um espaço para se ganhar adesões em massa.”

Para o professor da Eaesp, o maior esforço argumentativo demandado dos candidatos a prefeito, já que estes tratam de temas muito mais próximos do cotidiano do eleitor, também estará influenciado pela Covid-19, especialmente quando se trata do escrutínio da população sobre o desempenho dos prefeitos que buscam a reeleição. “Esse pode ser um dos fatores, por exemplo, para o alto percentual de intenção de voto do prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil, do PSD, (de 56% segundo pesquisa do Datafolha divulgada em 8/10), e o fraco desempenho do prefeito do Rio de Janeiro Marcelo Crivella, do Republicanos (com intenção de voto de 14%, e um índice de rejeição de 59% na mesma pesquisa).”

O alto número de candidatos verificado este ano - 529,75 mil, ainda sob avaliação de aptitude pelo TSE, sendo 19,16 mil para prefeitos, 19,26 mil para vice-prefeitos, 514 mil a vereadores, contra 419 mil candidatos aptos em 2016, sendo 16,56 mil a prefeito, 16,95 mil a vice-prefeito e 463,4 mil vereadores - já é, para Teixeira, reflexo das mudanças na legislação eleitoral. Com a cláusula de barreira aplicada sobre o resultado das eleições Legislativas de 2018, 14 siglas não atingiram o desempenho mínimo, entre elas, a Rede, e concorrerão sem espaço na propaganda partidária na TV, nem verba do Fundo Partidário, que junto ao Fundo Eleitoral é a principal fonte de recurso. O PCdoB também foi atingido pela regra, mas sua fusão com o PPL o tirou da zona de corte. Este ano, quando também passa a vigorar o fim das coligações para eleições proporcionais, será o “tudo ou nada” para muitas siglas, que fazem a prova dos nove no maior número de municípios possível. Em entrevista à Conjuntura Econômica de julho, o governador do Maranhão Flavio Dino (PCdoB) apontava, como solução futura, uma reorganização partidária em frentes nas quais cada legenda mantenha sua identidade, mas sem o direito de concorrer às eleições individualmente - como acontece no Chile, Uruguai e Portugal, por exemplo. Teixeira considera, entretanto, que o histórico brasileiro não colabora para a formação de arranjos similares. “Países como Chile e Uruguai têm partidos longevos, com tradição ideológica. No Brasil, toda vez que houve uma ruptura, como o Estado Novo, em 1964, tivemos uma mudança completa do sistema partidário. Nossa tradição de aliança aqui é muito mais eleitoral, no sentido oportunista, do que baseada em programas”, diz. “Se formos ver a base de Bolsonaro hoje, é a mesma que apoiou Lula”, compara, ressaltando que a falta de tradição ideológica - como não poderia deixar de ser -, se dá em ambos os lados do balcão. 

 


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