Confiança de empresários e consumidores se recupera do tombo de março, mas há pontos sensíveis, aponta o Boletim Macro

Rodolpho Tobler, pesquisador do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

Depois de registrar forte queda em março deste ano, quando novas medidas restritivas para conter o aumento do contágio de Covid-19 abalaram o humor de empresários e consumidores, a confiança voltou a subir em maio, consolidando a reação verificada a partir de abril, conforme aponta o Boletim Macro deste mês. Na prévia de maio, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) avançou para 97,2 pontos – em uma escala na qual 100 se refere ao nível neutro –, aproximando-se do patamar pré-pandemia. Já o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) (divulgado nesta terça-feira (25/5) indica uma alta acumulada de 8 pontos desde abril, alcançando os 76,2. Ainda é inferior a fevereiro, quando estava em 78 pontos, e 7,2 pontos abaixo do melhor resultado registrado na pandemia, em setembro de 2020, quando chegou a 83,4 pontos.

Confiança de consumidores e empresários
(Com ajuste sazonal, em pontos)


Fonte: FGV IBRE.

O pesquisador do FGV IBRE Rodolpho Tobler, coautor da análise sobre confiança publicada no Boletim, explica que o resultado do ICC de maio reflete uma recuperação mais robusta da percepção dos consumidores sobre a situação atual. “Tanto na queda de março, quanto no começo da recuperação, em abril, as maiores variações se concentraram nas expectativas dos consumidores quanto aos meses seguintes”, afirma. O que ditará o ritmo desse avanço daqui para frente, diz Tobler, será principalmente o ritmo de vacinação, que permita que a flexibilização da atividade adiante ocorra sem sobressaltos. Ele recorda que, na pesquisa de abril, os consumidores demonstraram estar mais preocupados com sua situação financeira, a inflação e como honrar suas contas. Questões que, lembra Tobler, não se dissiparão rapidamente. “Em abril, mais de 70% dos consumidores afirmaram estar adiando consumo de bens e serviços; em outubro do ano passado, eram 61,8%”, compara. Menções à dificuldade em obter emprego e ao fim das reservas que tinham poupadas cresceram, respectivamente, 9,6 e 11,5 pontos percentuais em relação a outubro, enquanto as referências à incerteza e piora da pandemia, ainda que permaneçam em terreno alto, tenham registrado ligeira queda. “O fato de já haver um processo de vacinação ajuda a conter esse número. Na verdade, com um ritmo adequado de imunização, poderíamos ter melhorado ainda mais esse resultado – levando em conta que em outubro ainda não havia vacinação em nenhum país”, diz, ressaltando a importância da contenção do contágio.

Fatores que têm levado consumidores a adiar compras de bens ou serviços
(menções em %, itens selecionados)


Fonte: Sondagens FGV IBRE.

Pelo lado das empresas, um dos elementos que também se mostram de difícil dissolução no curto prazo é a dificuldade, observada em algumas atividades industriais, para compra de insumos. Em abril, 25,3% dos empresários disseram sofrer desse problema, maior valor desde o início da série histórica, há 20 anos, e 5 pontos percentuais maior do que no quarto trimestre de 2020. Ente os segmentos mais afetados, como apontado no Boletim, estão limpeza e perfumaria (55,7% das empresas); veículos automotores (52,5%); e química (47,2%). “Em geral, essas indústrias dependem de insumos importados, com preços cotados em dólar. Hoje, além do real fraco, países desenvolvidos como Estados Unidos e alguns europeus estão retomando suas economias de forma mais acelerada, pressionando a demanda por insumos, ainda sob um contexto de reorganização das cadeias produtivas”, diz Tobler. Sob esse cenário, o pesquisador aponta que as perspectivas de melhora no abastecimento ainda ficam pouco claras. “Com tamanha alta no nível de respostas, é difícil acreditar em uma volta rápida à normalidade”, afirma. 

Quais os maiores desafios operacionais que as empresas vêm enfrentando durante a pandemia 


Fonte: FGV IBRE.

No caso dos segmentos de comércio e serviços, que na prévia de maio registraram a maior alta de confiança – com 87,1 pontos, mantendo-se, entretanto, no nível mais baixo de confiança entre os segmentos empresariais – outros dois desafios operacionais se destacaram. O primeiro mais citado pelos empresários de serviços foram adaptações a novas regras de funcionamento devido a medidas restritivas. O segundo foram as licenças de trabalho de funcionários com Covid-19 – refletindo a tendência de redução da faixa etária dos infectados, especialmente os que demandam internação. “Esse é um problema muito importante também para os segmentos da indústria e construção – citados, respectivamente, por 41,8% e 38,5% dos empresários”, destaca Tobler, lembrando que são segmentos mais sensíveis às ondas de pandemia, já que são poucas as ocupações em que se pode substituir o trabalho presencial pelo remoto. “Os empresários recuperaram parte de seu otimismo, mas tudo ainda depende do que pesará mais na balança daqui para frente: a evolução do calendário de vacinação, ou o contágio. Enquanto não vermos mais nitidamente o efeito positivo da imunização, que permita um ambiente de flexibilização mais tranquilo e consistente, a margem para se recuperar o otimismo ficará limitada”, conclui.

 


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