Boletim Macro do FGV IBRE aponta crescimento de 3,5% em 2021

Silvia Matos – coordenadora do Boletim Macro

Armando Castelar – coordenador da Economia Aplicada do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O primeiro Boletim Macro IBRE de 2021 reafirma as estimativas de um começo de ano difícil para a economia brasileira, com a expectativa de sinais mais disseminados de retomada apenas a partir do segundo semestre. Os pesquisadores do IBRE esperam um crescimento de 3,5% para o PIB em 2021, para um carregamento estatístico – herança do resultado de 2020 – de 2,5%. Em sua análise, a coordenadora do Boletim macro Silvia Matos e o coordenador da Economia Aplicada Armando Castelar apontam que essa estimativa ainda está condicionada ao ritmo da vacinação, bem como à evolução do contágio no país que, apontam, ainda geram preocupação e se apresentam como um risco negativo para as projeções.

O Boletim indica outros desafios que serão centrais na análise da macroeconomia este ano. Entre eles, o mercado de trabalho, que nesta edição é abordado tanto pelo ponto de vista das sondagens do IBRE quanto pelas estatísticas oficiais de 2020. No caso das sondagens, estas que apontam um recuo importante da expectativa do consumidor, receoso com sua situação, provocando o maior descolamento entre o índice de confiança dos consumidores e das empresas desde fevereiro de 2010. Bem como uma tendência de empresas a serem cautelosas em relação a decisões de investimento e contratações. Já Daniel Duque, pesquisador do IBRE, mostra que a evolução da população ocupada, que pela PNAD Contínua registra aumento acelerado em outubro, quando observada numa série mensalizada aponta uma redução gradual dessa expansão, puxada pelo setor informal. Já quanto ao saldo do Caged, Duque indica uma queda para dezembro estimada em 188 mil postos, depois do saldo positivo de novembro, de 414 mil vagas.

Outro tema que deverá concentrar as atenções pelo decorrer do ano é a tendência de curto prazo da inflação e os rumos da política monetária, com a difícil decisão, como aponta José Julio Senna, chefe do Centro de Estudos Monetário do FGV IBRE, sobre quando elevar a taxa de juros. Em sua análise, ele recorda que as estimativas do Banco Central já apontam uma inflação projetada a níveis bem próximos da meta, o que levou o BC a retirar o foward guidance – sinalização de manter os juros estáveis dada pelo BC em agosto do ano passado – na reunião do Copom em janeiro. Senna ressalta a importância dada pelo banco às projeções de inflação para 2022, e que estas tiveram peso importante na decisão do Banco. Ele também destacou a advertência do BC de que uma retirada do foward guidance não significaria um aumento imediato da Selic. Para Senna, o fraco ritmo da economia previsto para o início do ano deverá levar o Banco Central a ser cauteloso, “evitando movimentos precipitados de alta de Selic”.

Uma década de realismo

Além de inaugurar seu formato digital, a edição de janeiro também marca a comemoração de dez anos do Boletim Macro. Silvia conta que o Boletim é fruto da reunião, até então inédita, de várias áreas de produção do IBRE, que produziam suas análises, estatísticas e índices de maneira independente. “Já analisávamos temas como inflação e política monetária, fiscal, confiança, mercado de trabalho. O que fizemos foi direcionar parte desse estudo para gerar projeções macro completas”, explica.

Silvia conta que sua criação se deu no momento em que a economia brasileira sentia os primeiros efeitos do uso prolongado da política de estímulos fiscais e monetários iniciada para mitigar os efeitos da crise financeira internacional de 2008/2009, seguido do conjunto de medidas de incentivo conhecida como Nova Matriz Econômica, no governo de Dilma Rousseff. “Percebíamos que aquela dinâmica era insustentável, e sentíamos a necessidade de contribuir para o debate nacional, para um melhor entendimento dos desafios que o país tinha à frente”, diz.

Castelar, coordenador da Economia Aplicada do IBRE, recorda que, à época do lançamento do Boletim, também o cenário externo trazia muitos desafios interpretativos para os pesquisadores. “A grande crise financeira internacional trouxe um período de muita volatilidade nos mercados financeiros, a taxa de crescimento comércio internacional desacelerou”, enumera. Desse contexto emergiu debates como o da estagnação secular, dos impactos do afrouxamento quantitativo (QE, na sigla em inglês), bem como do papel da China, cuja presença se expandia pelo mundo. “Fizemos muitas reuniões de pauta buscando entender essa nova realidade”, diz. Ele define o resultado do trabalho cooperativo de criação do Boletim, que resultou em resenhas mensais ininterruptas, como uma análise realista da macroeconomia brasileira. “Talvez o fato de ser uma instituição acadêmica, que não está investindo diretamente, ou aconselhando investidores, permitiu que o Boletim fosse menos influenciado pelo otimismo ou pessimismo extremo do mercado”, diz.

O rigor do trabalho dos pesquisadores envolvidos no Boletim Macro nesta década ampliou a interlocução do IBRE com mercado e governo. Hoje, o FGV IBRE participa do Sistema de Expectativas de Mercado do Banco Central, responsável pelo relatório Focus. Também mantém diálogo com outras instituições de governo federal, entre elas Banco Central, Tesouro Nacional, Ministério da Economia, IBGE e Ipea, governos estaduais e municipais, e mesmo instituições internacionais, como o FMI e a OCDE. Silvia aponta que a busca pelo fortalecimento desse braço de análise conjuntural do IBRE é causa e consequência da criação e aprimoramento de indicadores, entre os quais destaca a importância do Monitor do PIB, criado em 2016, no diagnóstico da atividade econômica de mais alta frequência. Bem como a criação do Observatório da Produtividade, em 2019, fundamental para o diagnóstico, por exemplo, da lenta recuperação econômica do país após a recessão de 2014-16.

Esse aprimoramento contínuo buscado pelos pesquisadores também conta com o apoio da Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE), onde a equipe do Boletim busca e incorpora conhecimento de ponta produzido pelo corpo docente e discente. Um dos exemplos desse intercâmbio, ressalta Silvia, é o Índice de Condições Financeiras do FGV IBRE, desenvolvido com base nos estudos de Luana Miranda, doutoranda pela EPGE e pesquisadora do IBRE. “É um intercâmbio importante, que contribui para tornar a análise do Boletim ainda mais rica”, diz Silvia. E mais robusta, para decifrar as próximas questões econômicas importantes para o país, a começar pelas referentes à pandemia. “É um cenário marcado pelo de desemprego e dívida alta, que vai influenciar políticas públicas e o comportamento do mercado financeiro no mundo todo, e não seremos exceção”, completa Castelar.

PIB projeções

Fonte: IBGE. Elaboração: FGV IBRE.

Variação mensal da população ocupada, com ajuste sazonal, em trimestre móvel e mensalizada, por mês de 2020

Fonte: PNADC (IBGE) mensalizada com base na metodologia do BC. Elaboração: FGV IBRE.

 


As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade exclusiva do autor, não refletindo necessariamente a opinião institucional da FGV.

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