“Antecipação do 13º de aposentados e do abono salarial não deverão reverter baixa confiança do consumidor”

Viviane Seda Bittencourt – Coordenadora das Sondagens do FGV IBRE

Rodolpho Tobler – Analista econômico das Sondagens do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro 

O plano estudado pelo Executivo federal antecipar o 13º salário de aposentados pelo INSS e do abono salarial para mitigar o impacto do fim do auxílio emergencial no início do ano deverá ter pouco efeito no resgate da confiança do consumidor, avaliam Viviane Seda Bittencourt e Rodolpho Tobler, da Superintendência Adjunta de Ciclos Econômicos do FGV IBRE. No ano passado, a antecipação do 13º de aposentados e pensionistas somou R$ 47 bilhões; já o valor de abono pago em 2020 representou outros R$ 19,25 bilhões. 

“É difícil uma única medida ser suficiente para mudar o comportamento das famílias neste início de ano. Seria necessário um conjunto de sinalizações positivas. Até agora, entretanto, só temos acumulado notícias negativas”, diz Viviane, coordenadora da Superintendência, responsável pelas sondagens do FGV IBRE. “A expectativa de uma vacinação no início do primeiro trimestre, que era positiva no final do ano passado, foi contaminada pela falta de um calendário claro. E o aumento de casos e vítimas de Covid-19 amplia essa incerteza no curto prazo”, diz. A economista também destaca que a incerteza quanto à contenção do contágio pelo novo coronavírus também tende a postergar a recuperação de segmentos mais afetados pela pandemia, como serviços prestados às famílias – turismo e hospedagem estão entre eles –, que são grandes empregadores. “Em nossas sondagens de 2020, incluímos quesitos especiais relacionados à pandemia, e um deles demonstrou que, além do desemprego, a saúde era um fator importante nessa equação, afetando diretamente o bem estar das pessoas.”

Viviane lembra que a confiança do consumidor fechou 2020 com o maior descolamento em relação à confiança dos empresários registrado desde 2010. “Tal diferença demonstra que a cautela das famílias está alta, e o consumo está atrelado a isso”, diz. Para Viviane, notícias como a da demissão em massa de trabalhadores da Ford, com o anúncio do fechamento das fábricas da montadora no Brasil, tendem a intensificar esse sentimento de precaução. “Por mais que a notícia não afete diretamente o setor no qual a pessoa trabalhe, acentua a pressão psicológica, e as pessoas tendem a ficar mais atentas aos riscos”, afirma.

Para Tobler, economista responsável pela divulgação dos Índices de Confiança de Serviços, do Comércio e dos Indicadores de Mercado de Trabalho do FGV IBRE, superar esse contexto de insegurança só será possível com uma reação mais forte do mercado de trabalho. “Mas, com a piora da pandemia, isso provavelmente não acontecerá tão cedo. Pode haver uma recuperação, mas em um nível ainda baixo, o que manterá a incerteza das famílias com relação ao seu orçamento”, afirma. Tobler lembra que a redução do auxílio emergencial pela metade no final do terceiro trimestre foi acompanhada de um aumento da busca por trabalho, mesmo que informal. “Quando foi necessário complementar a renda, as pessoas se dispuseram a arriscar mais sua saúde. Agora, essa tendência deverá se acentuar, e provavelmente o mercado de trabalho não terá capacidade de reação para absorver essa demanda” Ele ressalta que o poder de compra da população de mais baixa renda não estará impactado só pelo fim do auxílio, mas também pelo aumento da inflação, concentrada no setor de alimentos, cujo peso é bem maior na cesta de consumo desse grupo. “O auxílio emergencial colaborou para esse aumento de preços, mas a inflação não acabará como o auxílio, na virada de um mês”, afirma.

Confiança do consumidor se descola

Fonte: FGV IBRE

 


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