América Latina: clima melhora, mas permanecem as incertezas

Por Claudio Conceição e Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

O Indicador de Clima Econômico (ICE) da América Latina, elaborado pelo FGV IBRE, registrou alta pelo quinto trimestre consecutivo, alcançando 99,7 pontos, próximo da neutralidade (100 pontos). É o melhor resultado desde o primeiro trimestre de 2018, sinalizando que os 149 especialistas de 15 países consultados pela equipe do IBRE estão mais otimistas com as perspectivas econômicas da região.

O ICE é calculado a partir da média geométrica de outros dois indicadores: o que mede a situação atual (ISA) e o indicador de expectativas (IE). A sondagem divulgada hoje (24/8) mostra um maior avanço do ISA, com um avanço de 30,9 pontos, totalizando 59,1. Além de mais que dobrar a pontuação observada na sondagem anterior, tal resultado é celebrado também por se tratar de um indicador que há tempos demonstra dificuldade de reação. Desde o final de 2012 o ISA se encontra em terreno negativo, e desde o início de 2017 tem acentuado sua distância em relação ao indicador de expectativas. Com exceção do período entre 2014 e 2016, e do terceiro trimestre de 2020 – quando refletiu o profundo choque do trimestre anterior com a pandemia – o IE manteve-se em terreno positivo, chegando a alcançar 156 pontos na sondagem anterior, recuando para 150,6 no resultado atual. “Parece que na última década a região tem alimentado uma esperança de melhora que não se concretiza na medida de suas expectativas”, diz Lia Valls, pesquisadora associada do FGV IBRE.

Indicadores da Situação Atual (ISA), de Expectativas (IE) e de Clima Econômico (ICE) da América Latina


Fonte: FGVG IBRE.

Quanto a essa reação positiva do ISA na sondagem mais recente – puxada por Brasil, Chile, Peru e México, que registram as maiores variações –, Lia aponta que os avanços na vacinação no segundo trimestre e o bom momento do preço de commodities exportadas pelos países da região devem ter colaborado para esse resultado. “Como a coleta de dados se encerrou em julho, ainda não havia a tensão sobre o risco da variante Delta que se observa agora”, diz. Lia também lembra que as maiores economias têm maior peso relativo no resultado. No caso do IE, as principais retrações foram do Chile, com perda de 44,5 pontos em relação à sondagem anterior, e Peru, com queda de 13,3. Ainda que as consultas aos especialistas não levem a justificativas sobre esses resultados, Lia ressalta que o processo de elaboração de uma nova Constituição no Chile e o complexo processo eleitoral no Peru, cujo reconhecimento de Pedro Castillo como vencedor levou um mês e meio para acontecer, podem ter influenciado na resposta dos entrevistados.

Índice de Clima Econômico (ICE) em países selecionados


Fonte: FGVG IBRE.

Nesta edição, a Sondagem Econômica da América Latina também divulgou pesquisas especiais sobre as perspectivas dos atores da região quanto à crise de abastecimento de insumos e matérias-primas que têm impactado segmentos industriais em nível global, e sobre as expectativas quanto ao comportamento futuro do preço das commodities.

Lia aponta que os países que se mostraram mais sensíveis quanto a problemas no fornecimento de insumos foram aqueles com um parque industrial mais diversificado e internacionalizado, com o Brasil liderando a lista dos que afirmaram ser gravemente afetados pela falta de abastecimento, com 46,2% de assinalações, seguido por Colômbia (29,4%) e Argentina (22,2%). No agregado dos países da região, a expectativa é de que a regularização desse quadro aconteça no quarto trimestre deste ano. Na Argentina, a maior parte das respostas indica esperança de normalização somente no primeiro trimestre de 2022. Já os países mais otimistas são Chile e Uruguai, que esperam que suas indústrias tenham essa situação revolvida no atual trimestre. 

No caso dos preços das commodities, a maioria dos países da região espera que estes sigam altos – o que não significa necessariamente em alta – por mais 12 meses, com 58,5% das respostas. Esse panorama, lembra Lia, beneficiaria economias exportadoras como Brasil, Argentina, Chile e Peru.  No Brasil, 76,9% indicaram a manutenção de preços altos por um ano, seguido por Colômbia, também com um percentual de respostas acima da média da região, com 64,7%.


Fonte: FGV IBRE.

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