Abalo na confiança empresarial chega ao setor de serviços

Rodolpho Tobler, analista econômico da Superintendência Adjunta de Ciclos Econômicos do FGV IBRE

Por Solange Monteiro, do Rio de Janeiro

A piora da confiança empresarial que já vinha sendo detectada no comércio, indústria e construção chegou agora aos serviços. A Sondagem de novembro aponta a primeira queda de confiança no setor – o mais prejudicado com a pandemia, e o último a iniciar sua recuperação –, depois de seis meses consecutivos de alta, impulsionada pelo avanço da vacinação e normalização das atividades que envolvem contato social. O Índice de Confiança medido pelo FGV IBRE registrou queda de 2,3 pontos em relação ao mês anterior, para 96,8 pontos, afastando-se do nível de neutralidade, de 100 pontos.

Rodolpho Tobler, analista responsável pela divulgação das Sondagens de Serviços e Comércio, aponta que o resultado é reflexo da piora das condições macroeconômicas do país, especialmente da alta inflacionária e da lenta recuperação do mercado de trabalho – liderada por vagas informais –, que afeta a capacidade de consumo das famílias e as torna mais cautelosas. “Em novembro, tanto a confiança de serviços quanto a do comércio demonstraram uma retração disseminada tanto entre segmentos quanto no horizonte de tempo, atingindo a confiança no momento atual e as expectativas para os próximos meses”, afirma. No caso do comércio, a terceira queda consecutiva de confiança se soma a um movimento morno de vendas na Black Friday, que já fazem analistas revisarem para baixo suas expectativas para o Natal. “Enquanto o comércio já acionou o sinal vermelho, os serviços acabam de acender o amarelo, lançando mais preocupação sobre o fôlego da retomada econômica, já que são as atividades que dinamizariam a economia neste final de ano, por terem muito a recuperar”, descreve Tobler. As respostas dos 1.501 empresários que participaram da Sondagem de Serviços foram recolhidas até o dia 25, quando as notícias relacionadas aos riscos da variante ômicron ainda começavam a tomar o noticiário. “Caso se confirme a necessidade de novas medidas de isolamento, a tendência é de que o setor de serviços se ressinta ainda mais”, lembra o analista.

A reversão do otimismo quanto à melhora da atividade do setor de serviços também foi verificada no Indicador de Desconforto. Tobler conta que esse índice é calculado a partir de um questionário específico contido na Sondagem, formado por oito fatores sugeridos e uma pergunta aberta. “Tanto no caso de serviços quanto no de comércio, o nível de desconforto dos empresários ainda está acima do verificado antes da pandemia, e os últimos resultados mostram um movimento ‘de lado’, que interrompe o caminho de melhora”, descreve. Os motivos que levam ao aumento do desconforto – que teve picos registrados durante a recessão econômica de 2014-16 e agora na pandemia – variam conforme o período. Na última pesquisa, Tobler afirma que os fatores que lideram essa insatisfação tanto dos empresários do comércio quanto de serviços são o cenário político/econômico e a pandemia (referidos na pergunta aberta) e demanda insuficiente. “Comparamos com o indicador de situação atual (ISA), e vemos ambos evoluírem no sentido contrário – com o desconforto alto e a confiança baixa”, diz. “Se pandemia não ficar para trás e demandar novas restrições, imaginamos uma piora até mais forte desse quadro, já que hoje temos um ambiente macroeconômico pior, com o cenário político e fiscal complicado”, completa. Tobler destaca que, enquanto o comportamento das expectativas do empresário do comércio demonstrou ser mais volátil deste a pandemia, reativo aos altos e baixos em um ambiente de incerteza econômica e pressão inflacionária, para o setor de serviços foram as flexibilizações que ditaram a melhora da confiança. “Uma volta atrás nas flexibilizações será um balde de água fria, pois as condições financeiras das famílias já não se mostram tão positivas para se explorar a demanda reprimida por serviços. Se houver cancelamento de eventos públicos e novas restrições, será preocupante para o setor”, conclui.  

Indicador de desconforto – serviços


Fonte: FGV IBRE.

 

Indicador de desconforto – comércio


Fonte: FGV IBRE.

 


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